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quarta-feira, 23 de março de 2011

Lágrimas no ônibus

E aqui seguem os relatos de mais um dia em minha vida (que é o que decidi fazer com esse blog daqui por diante!)...

Hoje estava indo para o trabalho, no início da noite, como faço às terças-feiras, me preparando para dar aulas para dois grupos bacanas de alunos. Como dita a Lei de Murphy, perdi meu ônibus, que passava logo que eu avistei o ponto de ônibus. Resolvi esperar pelo próximo, mesmo sabendo que iria demorar naquele horário. Depois de cerca de 30 minutos, consegui entrar no infeliz do ônibus, relativamente cheio, onde me espremi num canto, próximo à porta. Acabei por ficar de costas para a direção em que ia o veículo e, coincidentemente, logo de cara para uma menina que sentava na fileira seguinte de bancos, cujo decote era, digamos, bastante interessante. OK, sei que isso parece um comentário tipicamente masculino, etc e tal, mas fazer o quê, não é mesmo?! Sou solteiro, desinpedido, com os hormônios ativos como em qualquer outro homem jovem (ok, nem tão jovem assim). Enfim, a garota não era tão bonita...era graciosa, relativamente magra, de aparelhos nos dentes, olhos azuis ou verdes, se não me engano. Ela conversava com a amiga que estava sentada com ela, e ria, ria bastante. Mas, o decote me chamou a atenção, pois sua blusa era justa e ela aparentava ter seios belos, proporcionais, apesar de generosos para sua silhueta esguia.

Bom, eu olhava para ela ocasionalmente, buscando não deixar que ela percebesse meus olhares. Sou um tanto tímido, e não sabia exatamente para o que estava olhando, se para seus olhos, ou apenas para seu decote. Ficava tentando entender o que eu sentia, como de costume, pensando se uma garota como aquela me atraíria apenas por uma atributo de apelo sexual, ou se poderia me atrair por algo mais, já que eu não havia me impressionado muito por outras características suas.

O ônibus continuava cheio, eu tive de me manter na mesma posição, de face diretamente voltada para a tal garota. Mas, em certo momento, olho para a porta, e vejo um rapaz sentado bem aos degraus, bloqueando a saída. Penso em como aquilo é incômodo e inapropirado, pois atrapalha a saída das pessoas. Até que, após um tempo, ouço algum resmungar, um soluçar, algo estranho. Olho novamente para a porta, vejo que, por um instante, o rapaz sentado aos degraus da porta está com os olhos vermelhos. Passados mais alguns breves minutos, ouço aquele soluçar se intensificando. Logo, torna-se um choro. Olho novamente, e percebo que tal rapaz estava chorando mais forte, bem ali nos degraus da porta, no ônibus lotado, em frente a todos ali presentes.

Não sabia o que pensar. O choro dele intensificava-se, ele tentava cobrir os olhos, mas não parecia se preocupar em esconder seu pranto. Parecia que uma dor mais forte que qualquer possível pensamento de discrição o tomava por inteiro. Ele chorava, ocasionalmente batia a mão contra a porta, parava um pouco, deixava que uma ou outra pessoa saísse do ônibus, depois voltava a sentar, continuando a chorar um choro intenso. E isso se seguiu por mais longos minutos, até que descesse do ônibus, um bom tempo após o início de tudo aquilo.

Fiquei com pena, muita pena. Em certos momentos, mentalizava uma espécie de mantra de apoio, como que dissesse, mentalmente, ao tal rapaz, que tudo ficaria bem, que as coisas iriam se resolver. Ao mesmo tempo, ficava curioso sobre o motivo daquele pranto, bastante curioso. Também, pensava sobre como eu lidaria em situação similar a que ele poderia estar passando. Provavelmente, como sou reservado demais, contido demais, tímido demais, racional demais, não demonstraria minha dor em frente a estranhos. Provavelmente, me conteria, me guardaria por trás da dormência de sentimentos que tem me dominado ultimamente, amortecido por tudo pelo que venho passando ultimamente, mas que não vem ao caso comentar aqui, pelo menos não agora.

Enfim, peguei meu livro de dentro da mochila e, numa posição um pouco desconfortável, retomei minha leitura, ou melhor, re-leitura de um livro que julgo bastante interessante: The Goal, de Eliyahu M. Goldrat. E assim me distraí de qualquer outro pensamento, que não o da história que me envolvia mais uma vez.

Aproximando-me de meu destino, fechei meu livro, guardei-o novamente na mochila e olhei em volta. A menina que havia me chamado a atenção continuava sentada ali, frente a mim. A amiga dela havia se inclinado no ombro dela, e pareceu me observar, tentando notar a direção de meus olhos. Depois, ela olhava para a amiga, e voltava a olhar para mim. Pareceu que tentava avaliar se eu observava a menina do decote, e ficava com um sorriso no rosto, como que se divertisse pela amiga ter chamado a atenção de um branquelo de barba ruiva que lia um livro em inglês no ônibus. Daí, a menina do decote passou a me olhar, como se buscasse meu olhar para ver minha reação. Deu a impressão de que buscava contato. Deu-me a impressão de que queria que eu a observasse, que queria que eu a contatasse de alguma forma. Talvez, nada mais do que impressão, mas ela buscava meu olhar, que encontrou o dela por um breve instante, de forma tímida...

Logo, meu ponto de descida se aproximou, tive de me mover em direção à porta, e alguém acabou por quebrar a possibilidade de outro contato visual entre nós, apesar que, de relance, por um breve instante, tenha notado ela tentando olhar em minha direção novamente. Mas, tive de descer do ônibus.

E ali segui para meu local de trabalho, com cerca de 30 minutos livres antes de entrar em aula. Fui andando, pensando que não deveria ser assim tão desinteressante aos olhares femininos, apesar de alguns aparentes insucessos em minhas últimas investidas amorosas. Pensava que ainda tinha chances, já que havia conseguido, aparentemente, chamar a atenção da menina de decote deveras interessante no ônibus. Também pensava no rapaz chorando anteriormente, e desejava-lhe sorte para resolver qualquer que fosse o problema que lhe afligia.

Parei numa padaria no caminho, comprei minha coca-cola, meu cigarro, meu Halls preto de hábito... Na escola, mal entrei, logo foram dizendo "Olha ele aí, esse é seu novo professor", e me mostravam uma bela menina, que sorriu lindamente ao me cumprimentar. Que bela garota...e seria minha nova aluna. 

Ah, como essa vida é cheia de eventos confusos, marcantes, intrigantes, e algumas belas surpresas... E como vamos seguindo por essa vida, um instante após o outro, numa sucessão de acontecimentos infindáveis, alguns memoráveis, outros quase imperceptíveis, uns significativos, outros breves...e seguimos, vivemos, esquecemos, batalhamos nessa vida, sofremos, amamos...não apenas nós mesmos, presos em nossas próprias mentes e corações, mas junto com um mundo de pessoas por aí, que também pensam e sentem, e que vez ou outra cruzam nossos caminhos...

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