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sexta-feira, 25 de março de 2011

O medo dos relacionamentos

E aqui vamos nós com mais uma história de ônibus! Me pergunto quanto tempo tenho passado dentro deles para ter tantas histórias e pensamentos assim. Vai ver que é por estarmos gastando tempo ocioso dentro deles, sem muito o que fazer, em grande parte do tempo. Enfim, vamos ao quê interessa, apesar de que grande parte do que eu havia pensado no momento em que tudo ocorreu já se dissipou em minha mente ocupada com tanto pra pensar, preocupar-se, e assim por diante...

Lá estava eu, voltando para casa após um dia de trabalho, ao meio de uma noite sem muito o que chamar a atenção dos olhos. Havia terminado meu livro, sentindo aquela típica tristeza de quando acabamos de ler uma história pela qual estávamos cativados. Sem ter o que fazer, meus olhos vagavam entre os brilhos na escuridão janela afora e a diversidade humana dentro do transporte público em que me localizava, sentado.

Perdido em pensamentos, de repente noto uma garota ao celular. Ela me chama a atenção por diversos motivos. Primeiro, reconheço aquele rosto, aquele corpo de alguma outra noite de retorno do trabalho no referido coletivo. Segundo, ela é uma garota interessante, de rosto delicado, bonito, estatura relativamente baixa, corpo parrudo mas firme, de volumes generosos em toda sua dimensão, o que faria muitos classificarem-na como uma baixinha gatinha e gostosona. Terceiro, a expressão de seu rosto não estava das melhores. Ela parecia soluçar (de choro) ao falar no celular. Aquilo me chamou a atenção ainda mais.

Olhando, meio sem olhar, mantendo aquela difícil discrição pública, não pude evitar de ouvir parte da conversa que ela levava ao telefone. Até porque, estando num veículo de transporte público (algo nada silencioso), ainda havia todos os barulhos e ruídos do trânsito de uma megalópole intensa, o que a fazia falar num tom acima do que o volume da privacidade permite.

Ao que me parecia, ela estava em algum tipo de crise no relacionamento, uma crise que se mostrava no limiar de uma decisão quase definitiva. Um relacionamento que me parecia estar enfrentando seu derradeiro obstáculo. Ela reclamava que ele não havia sido suficientemente maduro, que sua desconfiança com relação a ela estava a sufocando, que já havia tentado conversar, mas que ele não fazia esforços em comunicar-se de forma adequada. Não estava terminando o relacionamento naquela hora, mas ela deixava claro que as coisas pendiam por um fio entre eles.

Percebendo toda aquela tristeza da bela garota, trazendo à tona elementos de experiências do passado, tanto minhas como de pessoas conhecidas, misturado a tudo isso um certo desejo pela interessante garota, comecei a me aprofundar em pensamentos sobre a natureza geral dos relacionamentos sob a luz de nossa sociedade atual. Solteiro, como estou hoje, aquilo começou a me causar certo medo de relacionamentos...

Inicialmente, me coloquei a pensar na relatividade de meu parcial interesse pela bela garota e na crise em que ela estava em seu relacionamento. Muitas vezes, os relacionamentos enfrentam esse tipo de problema. Um dos envolvidos não dá suficiente atenção ao outro, ou faz com que esse outro sinta-se sufocado por atitudes inadequadas, então esse outro começa a se sentir pressionado a tomar alguma atitude, sente-se isolado, perdido, sufocado, triste. Essa tristeza gera dúvidas sobre o relacionamento, causando um vazio. E, em dadas circunstâncias, pesando as necessidades de carinho que os humanos geralmente têm, pode acontecer de que alguma outra pessoa, fora do tal relacionamento, dê sinais de poder suprir tais necessidades de quem as tem por falta. E é assim que alguns relacionamentos têm seu fim, para dar início imediato a outros. Como já dizia Caetano Veloso, "...quando a gente ama é claro que a gente cuida...".

Isso me levou a outros pensamentos relacionados. Por exemplo, a liberdade que se tem quando somos solteiros, nossa individualidade elevada à máxima potência, os passeios e festas com os amigos sem pesos na consciência, as oportunidades que podem surgir à cada esquina. Deixar de ser solteiro pode significar abrir mão de tudo isso! Claro, cada situação da vida tem suas vantagens e desvantagens, mas certas horas temos grande medo de assumirmos determinados riscos.

Já passei uma grande parte de minha vida em relacionamentos. Em boa parte do tempo, fui feliz neles. Tinha carinho, companhia, atenção, alguém para dividir momentos, alegrias e tristezas. Mas, ao mesmo tempo, não podia curtir os amigos e a vida da mesma forma que descobri que consigo fazer hoje, sozinho e sem contas a prestar. Para abrir mão dessa liberdade, precisaria encontrar alguém muito especial, que fizesse cada momento da vida especial, de modo a não deixar surgir o anseio pelas belezas da solteirice.

O problema é que encontrar alguém muito especial para nossas vidas é tarefa árdua! Por nossos caminhos cruzarão diversas pessoas, dos mais variados tipos...e, os mais afoitos poderão querer agarrar a primeira pessoa que lhes passar pela frente, numa busca desesperada por companhia garantida para seus momentos de solidão. A questão é que nem toda pessoa que passa por nossas vidas é necessariamente "a" pessoa de nossas vidas. Muitas vezes, conheceremos pessoas que deveriam ser apenas "visitantes", não residentes de nossa existência.

Se manter um relacionamento com a pessoa "certa" já é difícil, imagine fazê-lo com a pessoa errada! É impraticável, é doloroso, é esgotador... E nem entrarei, aqui, nesse momento, nos méritos de como se deve agir para manter um relacionamento saudável, pois isso é assunto pra muitas e muitas páginas...

Como eu dizia, nem todos os relacionamentos foram feitos para durarem para sempre. É um simples fato da vida! Mas, do jeito em que fomos criados para enxergar nossas interações sociais e amorosas, somos levados a acreditar que separações são coisas negativas, quase demoníacas, que devem ser evitadas a todo custo. O relacionamento não está funcionando, mas ainda assim queremos mantê-lo. Muitas vezes, isso também se deve ao apego que temos com as coisas de modo geral. É como ter aquele aparelho eletrônico que já não funciona mais, mas do qual não queremos nos desfazer. Pensamos que um dia podemos consertar o aparelho, ou que talvez sintamos falta daquilo que consquistamos com tanto suor, ou algo assim. E acabamos por encarar alguns relacionamentos da mesma forma. Sabemos que ele não está mais funcionando, mas nos recusamos a nos desfazer dele, seja por que gostamos de alguma característica dele (apesar de todo o resto já ter virado "lixo"), ou por simples apego emocional infantil.

Ainda na comparação com o objeto eletrônico velho, imaginemos aquela velha TV que não funciona mais, e que você teima em guardar. Pode ser que, mesmo que você venha a consertá-la no futuro, ela já esteja antiquada, sem atender às suas expectativas atuais. O mesmo pode acontecer com os relacionamentos. Após um tempo em que esteja sem funcionar adequadamente, nossas vidas não deixaram de caminhar adiante. E um dos envolvidos, ou ambos, podem ter mudado de tal forma, que mesmo com o relacionamento "consertado" ele já não atenda as necessidades atuais de um, ou ambos os envolvidos. Aquela pessoa que amávamos acabou por tornar-se "antiquada" para nossas necessidades atuais. Nós mudamos, ficamos diferentes, não somos mais como costumávamos ser. E mesmo que ambos tenham mudado, às vezes acontece de não mudarmos na mesma direção.

Enfim, de forma alguma estou aqui dizendo que relacionamentos são ruins. Não estou levantando a bandeira da solteirice. Os leitores mais experientes, que buscam entrar nas profundezas das coisas ao seu redor, entenderam que apenas chamo a atenção para o cuidado que devemos ter ao tomarmos a decisão de assumirmos um relacionamento. Pois, se fôr para me trazer dor, sofrimento, angústia, sufocamento...não, muito obrigado. Estou muito bem do jeito que estou, solteiro! Quando resolver me "prender" a alguém, terá de ser alguém muito especial, que faça tudo valer á pena, e para quem eu queira que tudo valha à pena também!

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